Páginas

Renan dos Santos

Renan dos Santos

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Querido Opressor



Não venha achar que estou escrevendo a você por gratidão. Você me ensinou a temer as próprias algemas que VOCÊ colocou nos punhos da minha alma. Mas esperava que eu fosse grato por molhar a esponja e me dar de beber em meio aquele calor infernal. Calculadamente você me fez sentir errado por todas manipulações que vem fazendo. Eu me sentia culpado todos os dias por não ser bom o bastante, por não tentar mais uma vez, ou simplesmente por achar ruim aquilo que era péssimo. Friamente você me convenceu que o problema era eu. Eu me acostumei em chorar duas vezes. Primeiro pelas feridas que você me causava. A segunda: por ter ódio de você. E sentia ódio de mim por odiar você. Fazia parte do exercício diario: ora pensar em como lhe agradar, ora em como te mataria. Eu prefiro nunca saber como você faz isso comigo.

Eu achei por muito tempo que a vida era assim e que eu teria que me acostumar. Eu achava que tudo dependia de afrouxar as algemas e logo iniciaria um relacionamento amistoso. Essa sua ambição por querer que eu fosse o melhor, fazia com que cada conquista durasse pouco o sorriso. Pois logo ja era ultrapassado, pois perfeição é um ciclo vicioso. E lentamente eu me tornaria uma versão sua. Ser amante dos cadeados e trancar todos os quartos por dentro. Quando tudo dentro de mim fosse monótono eu iria atrás de outros. Como você fez comigo. E refletiria todas as minhas frustrações em alguém que ainda tem a chance de tentar.

Eu venci você. Quando meu corpo ficou fraco, minhas carnes ficaram mais rente ao osso. Quando me prendeu eu ainda era forte. Talvez não pensasse que eu me reduziria tanto fisicamente a ponto de meus punhos passarem livremente por suas algemas. Eu aprendi a olhar para o sol novamente. Demorou. Pois meus olhos sangravam. Eu te perdoo. Mas não te dou as chaves novamente. Eu as engoli.

Paulo Miguel Paz
@desengavetando 

Renan Santos 28 de Julho de 2017

Nenhum comentário: